domingo, 27 de outubro de 2013

Não sei por onde começar e nem lembro agora de algum trecho de música bonitinho pra poder explicar o que se passa. Não consigo pensar em frases de efeito, tampouco uma poesia mais ou menos que traduza meus pensamentos. Acho que, na verdade, o quadro é sério, é clínico, é de se procurar um diagnóstico profundo e detalhado. Não sei, mais acho que acabo de me tornar aqueles casos de um em um milhão que tanto falam nas pesquisas científicas. Isso! Deve ser algo que a ciência deveria investigar. E me coloco como prova, cobaia... uma amostra! É que tô com uma coisa que nunca tinha sentido antes, que nem deve ter nome e, se tiver, deve ser um desses nomes impronunciáveis, de tão complexo. Sinto uma diferença na minha, digamos, alma (?), sei lá. Tenta entender, pra poder me ajudar. 
Sempre fui dona de algo que fiz questão de dizer: é só meu. Tinha palavras de sobra, argumentos de sobra, queixo erguido o mais alto possível e uma voz sem falhas, sem dúvidas. Era dona de um jeito de se impor, de ter certeza do que vai dizer e do que vai ouvir como resposta. Tinha certezas. Era segura. Sempre escolhi o que sentiria, o que faria e o que deixaria de lado pra não criar caso. E dava nome às coisas. "Ah! Isso deve ser carinho, deve ser afeto...", "Ah! Isso deve ser compreensão e parece ser importante", "Hmm... isso é o que? Deixa pra lá." Em suma, tornava as coisas reais a partir do momento que as via como algo essencial. E nomeava, adotava como meu. E sentia, tendo certezas o tempo todo.
De repente, passei a ter fragmentos de frases na minha cabeça. Perdi as minhas conexões, esqueci de me cuidar e de analisar tudo antes de sair por aí pulando nas pedras pra atravessar o riacho. E atravessei.
Passei a ter vontades absurdas e necessidades que nunca tive antes. Algo que me induz a ficar ruborizada quando vejo você de longe, que me faz escolher a roupa perfeita e o modo de dizer "oi, tudo bem?".Algo que faz cócegas no peito e aperta o coração à noitinha. Algo que me faz calcular a numerologia do seu nome sem nem saber porquê. Alguma coisa que me faz lembrar de tudo no meu dia antes de adormecer, pra saber se não esqueci de algo, se não esqueci de dar um sorriso e de contemplar o seu. Algo que me fez repensar a saudade que, antes, era algo que se sentia com a distância e o anos e que agora significa "querer voltar no tempo e fazer tudo das mais variadas maneiras possíveis, pra durar mais e pra trazer os mais diversos risos e olhares".
Tem dias que tudo está mais intenso. Não sei explicar, mas é parecido com quando a gente acorda e tem uma fresta nas cortinas da janela do quarto, bem direcionada para o rosto, e o Sol bate bem ali, pra que a gente acorde sorrindo, dando bom dia pra vida. E não importam os problemas. O que supera tudo é o interesse por cada palavra sua. Pode ser sobre as dificuldades, a preguiça, sobre o nosso próximo café juntos, sobre o que você gosta, o que não gosta, o que lhe agrada de vez em quando. Pode ser sobre seu passatempo favorito, seus vícios preferidos (gravei uma série de nomes de jogos e mais um monte de cenas que você me descreveu). Pode ser o silêncio também. Quando você tá envolvido no seu casulo, quando você não tem nada a dizer.
Tem dias que não sei de nada. Tem dias que só quero deitar no seu peito e aproveitar o silêncio das coisas ou a conversa dos móveis da sala. Não sendo desleal comigo, tem dias que quero estar em mim, pensar em tudo, organizar, lavar o que tá sujo e arrumar o que tá fora do lugar. Tem dias que você não me entende quando eu preciso ser entendida. Tem dias que quero sossego.
Agora, pensando melhor, esses dias variam bastante. Posso querer algo bravo, selvagem e humano, felinamente rápido e depois, deitar e dormir, mal dizendo um boa noite. Só que tem dias que quero aproveitar a sua sincronia, o seu ritmo compassado e contar constelações nos seus olhos, depois ouvir seu coração desacelerando como um rallentando numa música qualquer.
Bem, os sintomas não são nada esclarecedores. Prova disso é que você, com certeza, voltou várias vezes aos parágrafos anteriores pra tentar traduzir alguma coisa. Eu sei. Nem eu entendo.
Sei lá... eu só quero dizer que fui invadida pelo desconhecido. Em todo caso, aprendi a me olhar por dentro e ver que nem tudo está sob o meu controle (mulher tem essa mania mesmo...). Se eu pudesse, perguntaria tudo antes de sentir e querer. Imploraria por desejar menos você, mas é quase impossível. 
Tenho aprendido a ser mais humana e reconhecer coisas simples. Não é um desespero necessário. É só deixar levar e por aí as coisas vão me levando... Simples. É apenas não brigar comigo mesma. Bom, acho que é ser companheira em tudo o que estiver ao meu alcance e fazer disso um prazer, independente do clima e do humor.
Depois de tantas palavras sem muito sentido, acabo de comprovar o que já havia anunciado no início. É algo que não tem nome. Me diz o que faz uma mulher dar o braço a torcer e passar a achar legal coisas que abominava? O que faz alguém ter essa vontade de estar junto e deixar um espaço, como se estivesse "deixando um pouquinho pra depois"? O que faz alguém esquecer dos problemas do passado só pelo fato de ouvir umas verdades? O que faz uma moça se valorizar mais porque sabe que é isso o que ele espera?
De repente, eu até saiba a resposta...
Com você, eu estou aprendendo a ser livre. E dentro de mim, eu estou aprendendo a ser forte. Ao seu lado, eu tenho descoberto que sorrir é só questão de querer. E durante esse tempo todo, eu passei a entender que, não importa o tempo, eu tô aqui apenas pra sentir.